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domingo, 4 de fevereiro de 2024

Pastor Geraldo Roberto Marski

 

Pastor Geraldo Roberto Marski

(1913–2010)



 Geraldo Roberto Marski, pastor e professor, nasceu em 6 de novembro de 1913, na Letônia, então parte do império russo. Seus pais, August e Emile Marski, eram luteranos da Alemanha. Eles imigraram com seus quatro filhos mais velhos, Emil, Johana, Hedwig e Else, devido à ameaça de guerra. Pouco tempo depois do nascimento de Geraldo ele foi registrado como cidadão letão. No novo país, August Marski trabalhou como jardineiro e auxiliar de manutenção numa residência. 

Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, August Marski, agora cidadão letão, foi chamado para lutar no exército russo. Porém, ele foi capturado pelos alemães no início do conflito, permanecendo preso até o fim da guerra.  Quando a Alemanha derrotou a Rússia em 1915, o exército alemão ocupou a Letónia. A vida tornou-se muito difícil para os Marski, hoje uma família de sete pessoas, com a mãe de Geraldo, Emile, e a avó Karoline cuidando de cinco filhos. Eles precisavam de comida, roupas e remédios.  O jovem Geraldo Marski pegou febre persistente. Sua mãe orou: “Meu Deus, se você preservar a vida do meu caçula, livrando-o desta terrível doença, eu o entregarei a você para ser missionário e proclamar o nome de Jesus”.

No início de 1918, Emile Marski adoeceu, falecendo em 26 de maio. Geraldo tinha apenas cinco anos. Seu pai August voltou da guerra no final do ano, mas Geraldo não o reconheceu, pois não via o pai desde os nove meses de idade. August casou-se novamente com uma viúva que tinha um filho pequeno. Em busca de melhores condições de vida, os Marski imigraram para o Brasil em julho de 1922. 

Viajando num grupo de vinte pessoas, os Marski desembarcaram no Rio de Janeiro, descendo até Santa Catarina, com destino à cidade de Alto Benedito Novo. A primeira acomodação durante a viagem foi com a família Falauer, que era adventista do sétimo dia. No início, o grupo foi um pouco cauteloso, pois havia certa apreensão em relação aos adventistas. Contudo, o motorista da comitiva assegurou-lhes que “os adventistas são boas pessoas” 7 e foram recebidos com gentileza. No dia seguinte foram apresentados à colônia alemã que seria seu lar. Assemelhava-se à Alemanha, incluindo o comércio, o cartório, as igrejas e a delegacia de polícia. Só se falava alemão lá. 

O primeiro emprego de Geraldo Marski no Brasil foi como babá na casa de uma família adventista, onde, com apenas oito anos, cuidou de uma criança pequena. Nos sábados ele os seguia até a igreja. Trabalhou naquela casa por cerca de um ano, até que, por motivo de doença, foi levado de volta para a casa do pai. 9 Pouco tempo depois, um homem chamado Christian convidou Geraldo para trabalhar em sua casa, cuidando do filho recém-nascido. A princípio, Geraldo e o pai resistiram, mas a madrasta insistiu que ele poderia ir, pois era “muito pequeno e fraco para trabalhar na fazenda”. Foi então que ele foi trabalhar para aquela família, que também era adventista. 

Aos 11 anos, Marski nunca havia entrado em uma escola e não sabia ler bem. Um dia a avó da família que ele servia veio até sua casa e lhe deu um livro para que ele praticasse a leitura. O título do livro era “Cristus Unser Heiland” (“A História de Jesus”). O livro apresentou a mensagem adventista àquela família e fez o mesmo com Marski

Algum tempo depois, Marski adoeceu novamente com febre forte, seguida de dor na perna direita. Sabendo que duas pessoas da comunidade haviam morrido daquela doença, ele orou a Deus pedindo cura e foi atendido. No entanto, ele ficou coxo do pé direito, uma deficiência que o acompanhou por toda a vida. 

A interação que teve com a família, incluindo estudos bíblicos e participação na Escola Sabatina, condenou Geraldo Marski a se tornar adventista do sétimo dia. Sabendo disso, seu pai o trouxe de volta para casa, pois queria que Geraldo fosse luterano. de agosto Marski tentou convencê-lo a se afastar de suas novas crenças, mas quando Geraldo lhe mostrou sobre o sábado, a situação dos mortos e muitos outros assuntos, direto da Bíblia, seu pai não conseguiu reunir seus argumentos. 

Na esperança de fazer com que o filho abandonasse a fé recém-adquirida, August Marski colocou Geraldo para trabalhar com a família de um descrente. Porém, Geraldo teve a oportunidade de trabalhar na casa de Teodore Kossmann, um dos líderes da Igreja Adventista local. Teodoro era amigo de Augusto, então não houve relutância. Mesmo assim, quando foi trabalhar para os Kossmann, Geraldo foi avisado para não se tornar adventista. 

Em seu trabalho, Marski teve a oportunidade de ler livros de Ellen White e outras literaturas adventistas, bem como participar de reuniões da igreja. Marski trabalhou durante seis anos com a família Kossmann e pôde estudar por um ano na Escola Adventista Alemã Benedito Novo. Foi batizado em 10 de junho de 1930, pelo Pastor Karl, na igreja de Joinville. Ao saber de sua decisão, seu pai ficou furioso, dizendo que Geraldo nunca mais poderia visitá-lo, nem chamá-lo de pai. A propriedade que ele possuía foi transferida para a filha de sua madrasta. Essa reação o devastou, pois ele amava o pai. 

Dois anos depois, a madrasta de Marski ligou para ele, dizendo que seu pai estava em estado crítico de saúde. Quando foi visitá-lo, seu pai começou a chorar, pedindo ao filho que orasse e cantasse por ele. Após esse acontecimento, August se recuperou, parou de fumar e mudou seu comportamento em relação a Geraldo. Ele morreu em outubro de 1934.

Agora um estudante ávido da Bíblia, Marski desejava tornar-se ministro do evangelho. Como futuro aluno do Brazil College (hoje UNASP-SP), ele teve muitas dificuldades, entre elas a escassez de recursos, a deficiência física e o fato de não falar muito bem o português. 

No início de 1933, ainda em Benedito Novo, Geraldo Marski recebeu a visita do Pastor Henrique Stoehr e compartilhou seu interesse em estudar no Brazil College. Em setembro de 1933, foi-lhe oferecida uma bolsa para trabalhar. Geraldo chegou ao Brazil College em 27 de setembro de 1933. Naquela época, os estudantes industriais trabalhavam um ano e estudavam no ano seguinte. Durante o dia, Geraldo trabalhava na lavoura e antes do amanhecer ordenhava as vacas da leiteria. 

Em 1934 fez a quinta série e em 1935 só trabalhou. No ano seguinte, ele deveria estudar a sexta série, mas conseguiu fazer uma prova especial e passou direto para a sétima série. Depois disso, ele deveria passar mais um ano trabalhando. Foi então que ele decidiu tentar a colportagem como alternativa. Inscreveu-se na campanha da Missão Paraná-Santa Catarina, por meio da qual, durante um ano, colportou na cidade de Joinville. Nesta campanha, alcançou o segundo lugar em vendas. A partir de então colportou durante todas as férias, o que lhe permitiu formar-se em Teologia em 1941. 

Iniciou seu ministério em 1942, como auxiliar administrativo na sede da Missão Paraná-Santa Catarina, localizada em Curitiba. Nesse mesmo ano, tornou-se instrutor bíblico e, posteriormente, assistente em uma série de campanhas evangelísticas, realizadas também em Curitiba. Geraldo foi responsável por visitar muitas pessoas, inclusive adventistas. Foi por meio desse trabalho que conheceu Alaíde, uma jovem batista que, por influência dos vizinhos, assistia às reuniões adventistas. Geraldo e Alaíde começaram a namorar e, em 5 de dezembro de 1942, ficaram noivos. A cerimônia de casamento foi realizada em 25 de janeiro de 1944, na Igreja Central de Curitiba, e realizada pelo Pastor Durval Stokler de Lima. Geraldo e Alaíde tiveram três filhos, David, Arthur e Paulo, que se tornaram pastores. 

Pouco tempo depois do casamento, Geraldo Marski aceitou o chamado para se tornar pastor do distrito de Siqueira Campos, no norte do estado do Paraná. Depois, trabalhou no distrito de Cambará, interior do estado, formado pela cidade de Ribeirão Claro. A igreja ali estava passando por dificuldades. A missão já havia votado pela venda do prédio, mas Marski conduziu uma série evangelística na cidade e outra em uma fazenda, e a igreja local foi restaurada. 

Geraldo foi ordenado em 21 de fevereiro de 1948. Nesse mesmo ano aceitou o chamado para pastor em Joinville. A igreja enfrentou muitos desafios; a congregação nem tinha prédio próprio. A igreja realizou a Escola Sabatina em uma casa onde as autoridades da cidade não permitiam que ninguém morasse, devido às suas estruturas que poderiam cair a qualquer momento. Depois de algum tempo, alugaram um salão para acomodar a igreja local e realizar uma série evangelística. O ponto central dos sermões de Marski era a fidelidade a Deus, a guarda do sábado e a devolução dos dízimos e ofertas. Após as reuniões, ocorreu o primeiro batismo e foi realizada a comunhão, cerimônias que há anos não aconteciam. 

Marski trabalhou em Joinville de 1949 a 1952. Em 1953 aceitou o convite para servir em Londrina, ainda no Paraná. De 1955 a 1957 pastoreou o distrito de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul. Em 1957 recebeu um chamado para trabalhar em Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. 32 Em 1958 foi nomeado presidente da Missão Mato Grosso. Em 1960 aceitou a oferta para se tornar capelão do Hospital Adventista de São Paulo. Era seu costume visitar os pacientes, não só quando estavam no hospital, mas também quando estavam em suas casas, após a recuperação. Nesse período, também foi presbítero da Igreja Central de São Paulo. 

Em 1964 foi chamado para ser pastor da Igreja Central de Campinas, onde serviu por quatro anos. Depois pastoreou a igreja na cidade de São Carlos. Lecionou Ensino Religioso na Academia São Paulo (atual UNASP-HT) de 1970 a 1972, aos 35 anos, quando se tornou pastor da Igreja Central de Hortolândia. 

Em 1976 voltou para Campinas com a família para mais uma vez servir na Igreja Central. Lá eles permaneceram por mais três anos. Durante este curto período de tempo, três igrejas adventistas foram construídas na cidade. Perto do final de 1977, Geraldo se aposentou. Ele continuou a pregar em Semanas de Oração e congressos para muitos grupos, incluindo pastores. Ele também publicou dois livros pela Editora Brasil, “Primeiro o Reino de Deus”, uma biografia e um devocional júnior em 2002.

Geraldo Marski faleceu em 15 de agosto de 2010, aos 96 anos, na cidade de Hortolândia. Três características o tornaram especial: sua dedicação, sua fé e seu otimismo, que contagiaram outras pessoas ao seu redor e as levaram a superar seus problemas. Ao longo da sua jornada de vida, ele leu a Bíblia inteira 70 vezes. Ele levou consigo a mensagem pregada por Jesus no Sermão da Montanha: “Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6: 33). 

 




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