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domingo, 4 de fevereiro de 2024

Pastor José Rodrigues dos Passos

 

Pastor José Rodrigues dos Passos

(1902-1987)



 José Rodrigues dos Passos, pastor, evangelista, administrador e professor, nasceu em 9 de Janeiro de 1902, na Cidade de Santo Antônio da Patrulha, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Filho de José Rodrigues dos Passos e Maria Emília dos Passos, teve quatro irmãos — Jovina, Ernestina, Zilda e João. 

José nasceu na Fazenda Passos, à margem do Rio Rolante, que era propriedade de seu avô paterno. Seu pai faleceu quando ele tinha três anos de idade e, por essa razão, a família viveu por um tempo com os parentes de sua mãe. Primeiro, foram para a casa dos seus avós maternos – Rodrigo Amador dos Reis e Ludovina, mais conhecido como vovó Dindinha. Naquela ocasião, tive a oportunidade de conviver com o tio José Amador dos Reis, que ainda morava em casa e futuramente se tornaria o primeiro pastor ordenado no Brasil. Com ele, o pequeno José Rodrigues aprendeu a construir arapucas e a ajudar na moedura de cana para fazer açúcar, melado e rapadura. 

Mais tarde, a família morou com os tios Doca e Adolfo Amador dos Reis, que foi considerado por José Rodrigues como um segundo pai. Ao todo, eram onze filhos na casa — ele, quatro irmãos e seis primos —, que juntos formavam uma grande família. No tempo oportuno, sua mãe conseguiu construir uma casa, que foi construída próxima aos tios Adolfo e Doca. 

Em 1904, chegaram à cidade de Taquara os primeiros Missionários Adventistas — Pastores Huldreich F. Graf e Ernest Schwantes. Como foram informados que em Santo Antônio da Patrulha havia pessoas interessadas em descobrir a verdade bíblica, eles se dividiram. Enquanto Graf ficou em Taquara, Schwantes foi para Campestre, distrito de Santo Antônio da Patrulha e, mais tarde, para Rolante. Foi assim que toda a família do avô Rodrigo Amador dos Reis aceitou a mensagem adventista, somando aproximadamente 30 pessoas. 

O primeiro batismo da região de Campestre foi realizado ainda em 1904, no Rio dos Sinos. Entre os batizados estavam Maria José Mendes, seus filhos Saturnino Mendes de Oliveira e Roberto Mendes de Oliveira, bem como mãe de José Rodrigues. Pouco depois, seu pai e quase todos os membros das famílias de Rodrigo e Irineu Amador dos Reis também foram batizados, no Rio Rolante, formando o grupo que deu início à Igreja Adventista de Rolante. 

Na ocasião, José Rodrigues tinha apenas dois anos de idade. Contudo, o zelo dessa família recém-convertida fez com que ele também fosse instruído cuidadosamente nos Caminhos do Senhor. Além disso, o contato com a natureza e o trabalho agrícola desempenhado desde os 11 anos de idade moldaram a vida do futuro pastor. Ele iniciou os estudos em uma classe escolar organizada em sua casa, pelo qual o primo de sua mãe, Roberto Mendes de Oliveira, era o professor. Em 1913, foi fundada a Escola Adventista Rolante, onde José obteve o ensino primário e secundário.  Vale notar que tanto a igreja como a escola foram construídas em terreno doado pelo avô, Rodrigo Amador dos Reis. 

José Rodrigues desejava se tornar Pastor desde que tinha 10 anos, sentimento de que se fortalecia sempre que assistia aos sermões de seu tio José dos Reis, desejando seguir seus passos. Mas, como deixaria a mãe viúva para estudar Teologia, sendo ele o filho homem mais velho? Então, aos 15 anos de idade, foi acometido gravemente por pneumonia e os médicos não lhe tiveram chance de vida. Sua mãe orou fervorosamente ao Senhor, dizendo que, se ele fosse curado, a consagração própria à Sua obra. Pela graça de Deus, a cura efetuou-se e logo a mãe começou a economizar a fim de conseguir os recursos necessários para enviá-lo ao seminário. Na mesma época (1917), ele foi batizado pelo Pastor Henrique Mayer, na cidade de Rolante, Rio Grande do Sul. 

Por meio da venda de animais e produtos agrícolas, José conseguiu juntar o estipêndio necessário para o primeiro ano de estudos (800 mil réis).  Desse modo, deixou Porto Alegre com destino ao Colégio Adventista Brasileiro em São Paulo (hoje Unasp-SP), acompanhado pelos colegas Domingos Peixoto da Silva e Júlio Miñán. Em Janeiro de 1920, ingressou no curso de Teologia. Porém, por falta de recursos, nos anos de 1921 e 1922 teve que interromper os estudos para se dedicar totalmente à colportagem. Retornou ao Colégio em 1923, seguindo na colportagem durante as férias. Em 1926, colportou no Rio de Janeiro, quando teve a oportunidade de vender o livro O Conflito dos Séculos, de Ellen G. White, para o futuro Presidente Getúlio Vargas. Ele gostou tanto da história dos reformadores que, mais tarde, colocou o nome de Lutero em seu filho primogênito. 

 

Nos últimos anos do curso, conheceu Adelina Benincassa (1904-1997), que na época havia sido chamada para lecionar português no Colégio Adventista Brasileiro. Eles se casaram em 29 de dezembro de 1926 na Igreja Adventista de São Carlos, estado de São Paulo, em cerimônia oficializada pelo Pastor José Amador dos Reis. Juntos, tiveram cinco filhos: Paulo, Esther, Daniel, Ruth e Helena. Adelina nasceu em São Carlos em 1904 e formou-se em Enfermagem pela Faculdade de Medicina da Bahia. Serviu como enfermeira e professora em escolas adventistas a vida toda. 

José dos Passos formou-se em Teologia em março de 1927 e iniciou o trabalho denominacional em 1º de abril do mesmo ano. Seu primeiro trabalho evangelístico foi desenvolvido em Pindaúva, região do Vale do Ribeira, estado de São Paulo. Como resultado, foi organizado o primeiro grupo adventista local, com o batismo de 11 pessoas pelo Pastor Alberto Hagen. Anos depois, esse grupo formou uma igreja na cidade de Jacupiranga. Após cinco meses, Passos foi chamado para trabalhar em Curitiba, estado do Paraná, onde ajudou o Pastor Alberto Hagen na Igreja Central. De Curitiba, foi transferido para Paranaguá, também três no Paraná, onde trabalhou por meses auxiliando um grupo de crentes, até março de 1928. 

Em Abril, aceitei o chamado para ser Evangelista na Missão Rio-Minas Gerais, onde realizou uma Série de Conferências em Olaria, Rio de Janeiro. Uma série já havia sido iniciada por um jovem pregador, mas que estava divulgando ensinamentos diferentes da fé adventista para o fim de fundar uma igreja própria. Pela graça de Deus, a situação foi revertida e uma igreja adventista foi construída. Em seguida, ele auxiliou nos programas evangelísticos dos pastores Ricardo Wilfart, em Madureira, e Henrique Stoehr, em Niterói.

Posteriormente, foi transferido para ser Pastor e Evangelista da Igreja Adventista de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, onde ocorreu de Abril de 1929 a Fevereiro de 1930. Em seguida, trabalhou como Evangelista na capital do estado, Belo Horizonte, que na época não possuía nenhuma Igreja adventista. Logo, foi organizada no bairro de Barro Preto uma casa para moradia da família e um salão para conferências. 

Em 3 de Outubro de 1930, uma revolução irrompeu que colocou o Presidente Getúlio Vargas no poder, e a casa da família Passos ficou justamente entre o fogo cruzado do 12º Regimento de Infantaria e as forças da Polícia Militar. Balas de fuzis e destruições foram obtidas através da passagem do telhado e do cais dentro da residência. Percebendo o perigo, decidimos fugir para Vila Concórdia, mas para isso tiveram que sair na rua e enfrentar o risco de ser atingido por uma das balas, que passavam sibilando junto às suas cabeças. Pelas disposições divinas e pelas orações dos irmãos, o casal Passos e os três filhos chegaram em segurança, sendo um ainda nascido de sete meses. 

Durante sua estadia em Belo Horizonte, o Pastor Passos realizou conferências nos bairros de Barro Preto e Carlos Pratas, além de ajudar o Pastor Luiz Braun em uma série de reuniões realizadas no centro. Como fruto de seus esforços, foi fundada a primeira igreja de Belo Horizonte, na Vila Concórdia. José dos Passos foi ordenado ao ministério em 9 de janeiro de 1932, no Rio de Janeiro. 

Em maio de 1932, aceitou o chamado para servir na Missão Nordeste como o único Pastor e Evangelista dos estados da Bahia e Sergipe, sob a liderança do Pastor Gustavo Storch. Quando chegou, não havia igreja adventista construída na Cidade de Salvador, mas apenas um grupo de irmãos que se reuniu em um salão comercial em Itapagipe. Ali, realizou conferências públicas e também auxiliou o Pastor Storch nas reuniões evangelísticas realizadas no centro de Salvador. Como resultado, a primeira igreja adventista da região central de Salvador foi organizada e construída. 

No final de 1933, a família Passos passou por uma situação muito difícil. As crianças foram todas acometidas, ao mesmo tempo, de sarampo, catapora e caxumba. Enquanto isso, o pai ficou gravemente doente com malária e tifo e precisou ser internado. O seu colega, Pastor Teófilo Berger, estava passando pela mesma situação e não resistiu. O estado de saúde do Pastor Passos era tão grave que os médicos pediram à sua esposa que levasse ao hospital a mortalha para vesti-lo. Em vista disso, o Pastor Cecil Schneider foi convidado para orar por ele e ungi-lo, conforme recomendação de Tiago 5. A igreja também foi convidada a orar e jejuar por sua recuperação. No momento da unção, Passos estava em estado de coma, mas, ao ser pronunciado como palavras “e a oração da fé salvará o doente” (Tg 5:13-15), ele concordou e imediatamente sentiu que estava melhorando. Em pouco tempo, estava em casa. 

Em 1934, Passos promoveu Séries de Conferências nas cidades de Aracajú e Lagarto, estado do Sergipe. Da Bahia, foi chamado para pastorear as três igrejas existentes na cidade de Recife, estado de Pernambuco, onde atuou de Fevereiro de 1936 a Outubro de 1937. No mês seguinte, foi transferido para João Pessoa, estado da Paraíba, onde fez com sucesso programas evangelísticos e especificações a primeira igreja adventista da cidade, com 100 membros. Além disso, em uma vila no interior da Paraíba, realizaram conferências em uma igreja presbiteriana, cujos membros se tornaram quase todos adventistas. 

Em Agosto de 1938, foi nomeado Diretor dos Departamentos de Educação e Jovem da Associação Sul-Rio-Grandense. Em seguida, foi nomeado presidente da Missão Mato-Grossense, onde serviu de Junho de 1941 a Março de 1944. O desafio era grande, pois só havia dois obreiros em todo o campo — os pastores Alfredo Barbosa e Alfredo Meier. Por esse motivo, ele desempenhou muitas outras funções, como Líder dos Departamentos de Obra Missionária, Educação e Jovem, enquanto o tesoureiro era também responsável pelos Departamentos de Escola Sabatina e Colportagem. 

Nesse período, o mundo estava sendo sacudido pela Segunda Guerra Mundial. O apoio do Brasil aos aliados levou o Estado a empreender forte perseguição contra civis alemães e japoneses. Pelo fato de a Igreja Adventista brasileira, na época, possuir vários obreiros e membros alemães, ela foi colocada sob suspeitas em vários pontos do país. Um dos estados em que a igreja sofreu perseguição mais severa foi o Mato Grosso. Dois jovens adventistas foram presos por não trabalharem aos sábados no serviço militar, e outro jovem ficou simplesmente surpreso por ser de ascendência alemã e ter se lamentado em público que o Brasil tivesse entrado na guerra. O tesoureiro do campo, o alemão Edwino Langstrassem, também foi preso, e todos os documentos do cofre da Missão, bem como a igreja e o batistério, foram revistados em busca de um suposto transmissor de rádio — que não foi encontrado. Até o Pastor Passos, apesar de não ter ascendência alemã ou japonesa, foi colocado na cadeia. Felizmente, pela amizade com o então comandante da região militar, eles foram libertados dias depois. 

Posteriormente, de Abril de 1944 a Julho de 1950, foi Presidente da Associação Paraná-Santa Catarina, onde participou da transferência do Educandário Adventista do Butiá (hoje Instituto Adventista Paranaense) da cidade de Butiá para Curitiba, no bairro de Pinheirinho. O novo terreno foi comprado por 200 mil Cruzeiros e, no início de 1948, teve início as aulas no novo local, sob a direção do Pastor Romeu Ritter dos Reis. 

Em seguida, Passos foi nomeado Pastor Distrital na Associação Paulista, onde serviu às igrejas do Brás (1950) e Central (janeiro de 1951 a abril de 1952). Durante esse período, houve um programa de rádio evangelístico transmitido aos domingos pela Rádio Tupi. 

Em Abril de 1952, foi chamado para ser Professor de Bíblia no Ginásio Adventista de Taquara (hoje Instituto Adventista Cruzeiro do Sul). Nesse período, o trabalho missionário com os alunos foi enfatizado e, aos sábados, grande número deles davam estudos bíblicos e distribuíam literatura pelos arredores. Além disso, vários estudantes se tornaram adventistas por meio das aulas de batismal. Através desse trabalho, formou-se um grupo de crentes na cidade de Gravataí, que mais tarde se tornou uma igreja. Passos lecionados ali até ser nomeado Presidente da Associação Sul-Rio-Grandense em Fevereiro de 1954. Durante seu mandato, o campo teve um crescimento notável, com a promoção de 19 conferências evangelísticas, o batismo de 1719 pessoas, o estabelecimento de 12 igrejas e um progresso específico na construção do Ginásio Adventista de Taquara. 

O Pastor José dos Passos se aposentou no início de 1958, na Associação Sul-Rio-Grandense. Durante a aposentadoria, serviu como Ancião na Igreja Central de Curitiba, pela qual foi homenageado em 1979 por seus 80 anos de vida e 50 anos de ordenação. O pastor Passos faleceu em 31 de Janeiro de 1987, em Curitiba, devido a um ataque cardíaco. A cerimônia fúnebre foi realizada na Igreja Central pelo Pastor Enoch de Oliveira, e o sepultamento ocorreu no cemitério Jardim da Saudade. 

José Rodrigues dos Passos prestou contribuição relevante para a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil, onde serviu por 31 anos como pastor, evangelista, administrador e professor. Trabalhou em dez estados do Brasil, destacando-se por seu trabalho evangelístico e pelos serviços prestados à administração dos campos.

 




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