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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Uma Linda História dos Pioneiros Francisco Muniz e Alfredo Farias

 

Uma Linda História

dos Pioneiros

Francisco Muniz

e

Alfredo Farias



Veja aqui uma linda História destes Pioneiros

Relatadas por eles


Em 1980, fomos convocados a fazer um trabalho evangelístico em um dos bairro da periféria de Natal, no Rio Grande do Norte. Montamos nossa equipe: Otacílio Ramos, Josineide Josino (Especialista em Contar Histórias Bíblicas para Crianças). Além de outros colaboradores, como Pastor Clóvis Bunzen, Joca e Nivaldo. Marcamos nossa reunião já no local onde iriamos penetrar e ali conhecemos um homem  extraordinário era Alfredo Farias. Homem de grande habilidade e verdadeiro amor ao falar aos corações de adolescentes e juvenis. Muniz era novo na conversão, desejoso de proclamar do amor de Deus a todos e Alfredo nos disse com toda humildade e simplicidade de que lhe eram próprias do seu caráter, que ficaria apenas no portão para organizar a saída e entrada daqueles que viriam a Série de Conferência. Já Francisco Muniz e o Irmão Otacílio ficariam se revezando nas pregações, até que se esgotou nosso limite de conhecimento e tudo que sabíamos tínhamos transmitido. E agora? Então o Irmão Alfredo assumiu a frente das reuniões, nos dando uma lição de práticas do que é a verdadeira humildade, que é servir sem procurar grandezas. Nas histórias que contávamos, fazíamos sorrir, chorar e tomar a decisão certa. Um homem com larga experiência em trabalhar na recuperação de meninos de rua, habilitado apenas no serviço altruísta voluntário. Mas dentre tantas experiências contaremos uma que Muniz Passou junto com ele.

Com o passar do tempo observamos que a maioria do nosso público era de crianças e jovens que vinham até de outros bairros para assistir nossas reuniões. Então formamos o Clube de Desbravadores Marechal Rondon, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, um movimento belíssimo, capaz de oferecer aos Jovens e Juvenis uma vida altruísta em prol da comunidade, no ideal de sempre fazer o bem, sem olhar a quem. Pois bem foram abertas matrículas para o Clube de Desbravadores e em uma de nossas reuniões, recebemos a visita de uma senhorinha já de bastante idade, com seus cabelos brancos, olhos bem apertadinhos, de pele clara e que trazia consigo seu neto. Terminada a reunião Muniz e Alfredo foram apresentados a eles e ela nos pediu que matriculassem seu neto. Ele se chama: Pedro. Preenchemos sua ficha de matrícula em consideração a vozinha, pois já conhecíamos a má fama de Pedro. Ele participava de uma das maiores gangs do bairro. Era uma gang barra pesada e perigosa. Nós não tínhamos gabarito, especialização, títulos em tratar com menor infrator, mas confiantes em Deus, enfrentamos esse desafio. Na realidade, nosso trabalho era prevenir, orientar os juvenis e jovens a jamais enveredarem pelo caminho das drogas, e isto, fazíamos muito bem. Trabalhávamos como um triângulo equilátero, três lados iguais. Desbravadores + Escola + Família = o Menor.

O nosso amigo Pedro pouco vinha as reuniões do Clube de Desbravadores e quando aparecia estava escoltado pela vozinha. Desenvolvendo atividades nas áreas Física, Mental e Espiritual e Social, descobrimos que o nosso amigo, gostava de futebol de campo, formamos um time por faixa etária e o Pedro se dispôs a ser o goleiro. Sempre perdíamos de goleada. Outros jogadores faziam pressão para que trocássemos de goleiro. Mas na persuasão, nós o mantínhamos. O futebol para nós não era o fim, mas um meio, havia lugar para todos, até mesmo para Pedro. Acampamentos, Caminhadas, Recreações, Novas Amizades, Reuniões Religiosas, Desfiles nos Bairros, Campanhas contra o Álcool, Fumo e Drogas, Serviços a Comunidade... Assim os jovens eram envolvidos e uma força para o bem os motivava a fazerem o seu melhor, espelhados em Jesus Cristo. Temos Ele como nosso líder máximo. Mas certa feita, o Pedro reapareceu em nossa reunião, seu semblante aparentava estar transtornado, olhos avermelhados, cabisbaixo, com dificuldades para falar, havia ingerido drogas como de outras vezes. Processamos a reunião normalmente, sem lhe dar excessiva atenção. Quando terminamos, como sempre, pedimos que todos fossem embora para suas casas. Mas que Pedro esperasse, teríamos uma reunião particular. Nós o conduzimos a um quarto escuro (local onde o irmão Alfredo revelava fotografia), ascendemos uma luz clara e o Muniz falou:

- Nunca disse a ninguém quem sou eu. Nem mesmo ao Irmão Alfredo revelei a minha identidade. Agora leia aqui.

Falei essas palavras, mostrando a eles duas carteiras: uma de Investigador Profissional e a outra de Detetive Particular. No impacto das carteiras com o meu nome, fotografia, registro no cartório, tudo certinho eu sacolejei pegando firme em seus ombros e olhando nos olhos falei com voz veemente e energética:

-Você vai mofar na cadeia, Pedro! Pensa que não sei quem você é? O que você esta fazendo da vida, em Pedro?

Ele replicou:

- Muniz, não faça isso comigo!

Interpelei:

- Muniz? Me repete! Doutor Delegado! (Falei em tom de intimidação). Nós vamos abrir um inquérito Policial agora mesmo!

“Pressionado”, Pedro começou a contar nos detalhes de sua vida sóbria, que passo a descrever.

Pedro, nascido em tal dia... Confidenciou nos que fazia parte da principal gang do bairro, a sua área de atuação era no interior e fora do Estado. Havia uma mulher infiltrada na gang que fingia estar grávida e desmaiava na BR. Quando alguém parava e atendia, a gang que estava escondida, entrava em ação, amarrava a vítima, se apropriava dos seus pertences, vendia nos lugarejos ali por perto e depois largava o carro em qualquer canto. Contou nos também que o chefe da gang sempre apelava para não deixar testemunhas, mas Pedro argumentava:

- Já conseguimos as mercadorias, o dinheiro, vamos embora, vamos deixa-lo com vida.

Assim nos contou e assim era feito. Terminado o depoimento. Pedimos ao Pedro que assinasse o “Documento” (Pedaço de Papel). Ele assinou. Então eu lhe disse em tom de ira.

Sua vozinha vai conhecer quem você é. Vamos agora se despeça dela. Depois vou dar entrada no processo penal. Você já foi longe demais.

Então o Pedro nos pediu que não contássemos para sua vozinha e que não o levássemos para a prisão. Pediu nos apenas uma chance, a última. Eu tinha feito a opção de ser o linha dura. Inflexível. Já Alfredo sabia que sua função era interceder pelo Pedro.

- Muniz vamos dar uma chance ao Pedro?

- Não. Alfredo, disse eu: Já demos chances demais. Ele não merece mais nenhuma oportunidade.

- Mas Muniz, contra argumentava. Faça apenas por mim. Muniz sou eu quem estou pedindo, seu amigo Alfredo. Por favor!

Olha Pedro, vou dar essa chance, mas não é por causa de você, não! É porque  o irmão Alfredo está pedindo e também por causa de sua vozinha.

Oramos a Deus em favor de Pedro, Depois falamos que nessa última oportunidade, ele não poderia mais faltar nenhum reunião e que a nossa vigilância sobre ele seria redobrada. Qualquer vacilo ele seria encaminhado a prisão.

Que mudança radical na vida do Pedro. Louvado seja Deus! “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Víamos agora Pedro aconselhando outros jovens a não andarem de patota. Chegarem cedo em casa. Obedecer o pai e a mãe. Com o passar do tempo, confiamos lhe uma Unidade (6 a 8 Juvenis). Era um Conselheiro exemplar, bom amigo e prestativo. Contou nos que certo tempo depois o chefe da gang procurou perguntando:

- O que está acontecendo com você? Nunca mais apareceu? O que ouve?

Ele disse para o chefe que era crente, não queria mais viver no caminho do erro. O Chefe então o ameaçou:

Não conte pra ninguém o que fizemos juntos, senão eu acabo com você.

- Está bem falou Pedro: Pode ficar tranquilo.

Não podiam mais andar juntos. Uma decisão revolucionou sua vida. O Pedro voltou a estudar. Investir no futuro. Construiu um carro de madeira, onde vendia confeitos, pipocas e doces etc. para manter a vida e ajudar nas despesas da casa. Cheia de brilho, cheio de esperança era a sua vida. Com o crescimento do Clube de Desbravadores precisou de um líder noutro bairro. Então enviamos o Pedro e sob a nossa supervisão, desenvolveu um belíssimo trabalho. Tinha uma caderneta, onde fazia anotações a respeito do comportamento de cada Juvenil. Indagava junto aos pais se estava fazendo melhora na vida do seus liderados.

Na realidade o Pedro jamais pode gozar de uma saúde plena. As drogas tinham lhe trazido sequelas, onde sempre retornava ao hospital para tratamentos. Noutra ocasião estava lecionando no CEAN – Centro Educacional Adventista de Natal, quando recebo um telefonema. Era sua vozinha que me dava a trágica notícia de seu falecimento.

Pedi para ser dispensado da escola e a tarde ao chegar à casa de seus pais, presenciei o Pastor André Vieira realizando a Cerimônia Fúnebre. O Pastor me pediu que orasse pedindo a Deus que consolasse a família. Antes de fechar o esquife, me emocionei, com uma das cenas mais bela que vi na vida: a vozinha abraçou o corpo inerte do Pedro e disse:

- Foi o melhor neto que eu tive.

Muitos de nós chorávamos pelo testemunho de verdadeiro amor transmitido pela aquela anciã. Pude meditar. “Tomba-se um valente! Um Herói! anônimo! O seu nome jamais foi destaque na Sociedade Moderna. Não alcançou qualquer projeção na vida, viveu sem grande expressão para o mundo. Certamente para Deus sua vida foi especial.

Se vivermos na mesma crença de que existe um Deus Todo Poderoso, capaz de transformar vidas, capaz de tornar o pior marginal no melhor santo e muito mais ainda capaz de trazer o dom da imortalidade e pôr fim ao império do pecado, tendo o poder para nos transformar para o reino do seu amor, não será possível vivermos em vão, nem encontraremos significado na prática do mal. “Permita-me Deus! Um dia apresentar meu amigo Pedro. Não com o corpo debilitado pelas drogas, mas glorioso e você ouvir os seus próprios lábios o maravilhoso amor de Deus em transformar sua vida”.

Quero abraça-lo e dizer que a sua experiência de vida contribuiu para aumentar minha confiança em Deus. Direi que a história da sua conversão eu contei em muitas igrejas, penitenciárias, grupos de jovens, escolas, meninos de rua e etc, na esperança de encaminhar muitos jovens para uma vida digna perante Deus e os Homens. Mas nesta história há detalhes que jamais contei para o Pedro.

Depois que ele assinou o inquérito policial, seguiu de uma oração. Despedimo-nos dele que estava indo para a casa e rasguei aquele papel em pedacinhos e queimei toda a experiência em gangs e drogas que ele havia relatado. Além da verdade eu não era e nem sou investigador e tão menos Detetive Particular. Mas como explico. Um dia um homem bem conceituado se aproximou-se de Muniz e argumentou que era importante ele fazer um Curso de Investigador e de Detetive. Esses títulos iriam ampliar a sua esfera de ação dentro do Serviço Voluntário, que ele realizava em prol dos adolescentes. Lembro-me bem que paguei uma soma de dinheiro em troca das carteiras, mas que não recebi nenhuma orientação policial. Poucos meses depois, acompanhei pelo Jornal Nacional a prisão deste homem que falsificava carteiras. E se minha vida de “Investigador” tivesse começado por esse homem? Hoje aquelas carteiras representam apenas um troféu, vitórias, porque alguém foi reintegrado a Sociedade.

O nome Pedro é fictício, mas a história é verídica


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