Uma Linda História
dos Pioneiros
Francisco Muniz
e
Alfredo Farias
Veja aqui uma linda História destes Pioneiros
Relatadas por eles
Em 1980, fomos
convocados a fazer um trabalho evangelístico em um dos bairro da periféria de
Natal, no Rio Grande do Norte. Montamos nossa equipe: Otacílio Ramos, Josineide
Josino (Especialista em Contar Histórias Bíblicas para Crianças). Além de
outros colaboradores, como Pastor Clóvis Bunzen, Joca e Nivaldo. Marcamos nossa
reunião já no local onde iriamos penetrar e ali conhecemos um homem extraordinário era Alfredo Farias. Homem de grande habilidade e
verdadeiro amor ao falar aos corações de adolescentes e juvenis. Muniz era novo
na conversão, desejoso de proclamar do amor de Deus a todos e Alfredo nos disse
com toda humildade e simplicidade de que lhe eram próprias do seu caráter, que
ficaria apenas no portão para organizar a saída e entrada daqueles que viriam a
Série de Conferência. Já Francisco Muniz e o Irmão Otacílio ficariam se revezando
nas pregações, até que se esgotou nosso limite de conhecimento e tudo que
sabíamos tínhamos transmitido. E agora? Então o Irmão Alfredo assumiu a frente
das reuniões, nos dando uma lição de práticas do que é a verdadeira humildade,
que é servir sem procurar grandezas. Nas histórias que contávamos, fazíamos
sorrir, chorar e tomar a decisão certa. Um homem com larga experiência em
trabalhar na recuperação de meninos de rua, habilitado apenas no serviço
altruísta voluntário. Mas dentre tantas experiências contaremos uma que Muniz
Passou junto com ele.
Com o passar do tempo
observamos que a maioria do nosso público era de crianças e jovens que vinham
até de outros bairros para assistir nossas reuniões. Então formamos o Clube de
Desbravadores Marechal Rondon, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, um movimento
belíssimo, capaz de oferecer aos Jovens e Juvenis uma vida altruísta em prol da
comunidade, no ideal de sempre fazer o bem, sem olhar a quem. Pois bem foram
abertas matrículas para o Clube de Desbravadores e em uma de nossas reuniões,
recebemos a visita de uma senhorinha já de bastante idade, com seus cabelos
brancos, olhos bem apertadinhos, de pele clara e que trazia consigo seu neto.
Terminada a reunião Muniz e Alfredo foram apresentados a eles e ela nos pediu
que matriculassem seu neto. Ele se chama: Pedro. Preenchemos sua ficha de
matrícula em consideração a vozinha, pois já conhecíamos a má fama de Pedro.
Ele participava de uma das maiores gangs do bairro. Era uma gang barra pesada e
perigosa. Nós não tínhamos gabarito, especialização, títulos em tratar com
menor infrator, mas confiantes em Deus, enfrentamos esse desafio. Na realidade,
nosso trabalho era prevenir, orientar os juvenis e jovens a jamais enveredarem
pelo caminho das drogas, e isto, fazíamos muito bem. Trabalhávamos como um
triângulo equilátero, três lados iguais. Desbravadores + Escola + Família = o
Menor.
O nosso amigo Pedro
pouco vinha as reuniões do Clube de Desbravadores e quando aparecia estava
escoltado pela vozinha. Desenvolvendo atividades nas áreas Física, Mental e
Espiritual e Social, descobrimos que o nosso amigo, gostava de futebol de
campo, formamos um time por faixa etária e o Pedro se dispôs a ser o goleiro.
Sempre perdíamos de goleada. Outros jogadores faziam pressão para que trocássemos
de goleiro. Mas na persuasão, nós o mantínhamos. O futebol para nós não era o
fim, mas um meio, havia lugar para todos, até mesmo para Pedro. Acampamentos,
Caminhadas, Recreações, Novas Amizades, Reuniões Religiosas, Desfiles nos
Bairros, Campanhas contra o Álcool, Fumo e Drogas, Serviços a Comunidade...
Assim os jovens eram envolvidos e uma força para o bem os motivava a fazerem o
seu melhor, espelhados em Jesus Cristo. Temos Ele como nosso líder máximo. Mas
certa feita, o Pedro reapareceu em nossa reunião, seu semblante aparentava
estar transtornado, olhos avermelhados, cabisbaixo, com dificuldades para
falar, havia ingerido drogas como de outras vezes. Processamos a reunião
normalmente, sem lhe dar excessiva atenção. Quando terminamos, como sempre,
pedimos que todos fossem embora para suas casas. Mas que Pedro esperasse,
teríamos uma reunião particular. Nós o conduzimos a um quarto escuro (local
onde o irmão Alfredo revelava fotografia), ascendemos uma luz clara e o Muniz
falou:
- Nunca disse a ninguém
quem sou eu. Nem mesmo ao Irmão Alfredo revelei a minha identidade. Agora leia
aqui.
Falei essas palavras,
mostrando a eles duas carteiras: uma de Investigador Profissional e a outra de
Detetive Particular. No impacto das carteiras com o meu nome, fotografia,
registro no cartório, tudo certinho eu sacolejei pegando firme em seus ombros e
olhando nos olhos falei com voz veemente e energética:
-Você vai mofar na
cadeia, Pedro! Pensa que não sei quem você é? O que você esta fazendo da vida,
em Pedro?
Ele replicou:
- Muniz, não faça isso
comigo!
Interpelei:
- Muniz? Me repete!
Doutor Delegado! (Falei em tom de intimidação). Nós vamos abrir um inquérito
Policial agora mesmo!
“Pressionado”, Pedro
começou a contar nos detalhes de sua vida sóbria, que passo a descrever.
Pedro, nascido em tal
dia... Confidenciou nos que fazia parte da principal gang do bairro, a sua área
de atuação era no interior e fora do Estado. Havia uma mulher infiltrada na
gang que fingia estar grávida e desmaiava na BR. Quando alguém parava e
atendia, a gang que estava escondida, entrava em ação, amarrava a vítima, se
apropriava dos seus pertences, vendia nos lugarejos ali por perto e depois
largava o carro em qualquer canto. Contou nos também que o chefe da gang sempre
apelava para não deixar testemunhas, mas Pedro argumentava:
- Já conseguimos as
mercadorias, o dinheiro, vamos embora, vamos deixa-lo com vida.
Assim nos contou e
assim era feito. Terminado o depoimento. Pedimos ao Pedro que assinasse o
“Documento” (Pedaço de Papel). Ele assinou. Então eu lhe disse em tom de ira.
Sua vozinha vai
conhecer quem você é. Vamos agora se despeça dela. Depois vou dar entrada no
processo penal. Você já foi longe demais.
Então o Pedro nos pediu
que não contássemos para sua vozinha e que não o levássemos para a prisão.
Pediu nos apenas uma chance, a última. Eu tinha feito a opção de ser o linha
dura. Inflexível. Já Alfredo sabia que sua função era interceder pelo Pedro.
- Muniz vamos dar uma
chance ao Pedro?
- Não. Alfredo, disse
eu: Já demos chances demais. Ele não merece mais nenhuma oportunidade.
- Mas Muniz, contra
argumentava. Faça apenas por mim. Muniz sou eu quem estou pedindo, seu amigo
Alfredo. Por favor!
Olha Pedro, vou dar
essa chance, mas não é por causa de você, não! É porque o irmão Alfredo está pedindo e também por
causa de sua vozinha.
Oramos a Deus em favor
de Pedro, Depois falamos que nessa última oportunidade, ele não poderia mais
faltar nenhum reunião e que a nossa vigilância sobre ele seria redobrada.
Qualquer vacilo ele seria encaminhado a prisão.
Que mudança radical na
vida do Pedro. Louvado seja Deus! “Onde abundou o pecado, superabundou a
graça”. Víamos agora Pedro aconselhando outros jovens a não andarem de patota.
Chegarem cedo em casa. Obedecer o pai e a mãe. Com o passar do tempo, confiamos
lhe uma Unidade (6 a 8 Juvenis). Era um Conselheiro exemplar, bom amigo e
prestativo. Contou nos que certo tempo depois o chefe da gang procurou
perguntando:
- O que está
acontecendo com você? Nunca mais apareceu? O que ouve?
Ele disse para o chefe
que era crente, não queria mais viver no caminho do erro. O Chefe então o
ameaçou:
Não conte pra ninguém o
que fizemos juntos, senão eu acabo com você.
- Está bem falou Pedro:
Pode ficar tranquilo.
Não podiam mais andar
juntos. Uma decisão revolucionou sua vida. O Pedro voltou a estudar. Investir
no futuro. Construiu um carro de madeira, onde vendia confeitos, pipocas e
doces etc. para manter a vida e ajudar nas despesas da casa. Cheia de brilho,
cheio de esperança era a sua vida. Com o crescimento do Clube de Desbravadores
precisou de um líder noutro bairro. Então enviamos o Pedro e sob a nossa
supervisão, desenvolveu um belíssimo trabalho. Tinha uma caderneta, onde fazia
anotações a respeito do comportamento de cada Juvenil. Indagava junto aos pais
se estava fazendo melhora na vida do seus liderados.
Na realidade o Pedro
jamais pode gozar de uma saúde plena. As drogas tinham lhe trazido sequelas,
onde sempre retornava ao hospital para tratamentos. Noutra ocasião estava
lecionando no CEAN – Centro Educacional Adventista de Natal, quando recebo um
telefonema. Era sua vozinha que me dava a trágica notícia de seu falecimento.
Pedi para ser
dispensado da escola e a tarde ao chegar à casa de seus pais, presenciei o
Pastor André Vieira realizando a Cerimônia Fúnebre. O Pastor me pediu que
orasse pedindo a Deus que consolasse a família. Antes de fechar o esquife, me
emocionei, com uma das cenas mais bela que vi na vida: a vozinha abraçou o
corpo inerte do Pedro e disse:
- Foi o melhor neto que
eu tive.
Muitos de nós
chorávamos pelo testemunho de verdadeiro amor transmitido pela aquela anciã.
Pude meditar. “Tomba-se um valente! Um Herói! anônimo! O seu nome jamais foi
destaque na Sociedade Moderna. Não alcançou qualquer projeção na vida, viveu
sem grande expressão para o mundo. Certamente para Deus sua vida foi especial.
Se vivermos na mesma
crença de que existe um Deus Todo Poderoso, capaz de transformar vidas, capaz
de tornar o pior marginal no melhor santo e muito mais ainda capaz de trazer o
dom da imortalidade e pôr fim ao império do pecado, tendo o poder para nos
transformar para o reino do seu amor, não será possível vivermos em vão, nem
encontraremos significado na prática do mal. “Permita-me Deus! Um dia
apresentar meu amigo Pedro. Não com o corpo debilitado pelas drogas, mas
glorioso e você ouvir os seus próprios lábios o maravilhoso amor de Deus em
transformar sua vida”.
Quero abraça-lo e dizer
que a sua experiência de vida contribuiu para aumentar minha confiança em Deus.
Direi que a história da sua conversão eu contei em muitas igrejas,
penitenciárias, grupos de jovens, escolas, meninos de rua e etc, na esperança
de encaminhar muitos jovens para uma vida digna perante Deus e os Homens. Mas
nesta história há detalhes que jamais contei para o Pedro.
Depois que ele assinou
o inquérito policial, seguiu de uma oração. Despedimo-nos dele que estava indo
para a casa e rasguei aquele papel em pedacinhos e queimei toda a experiência
em gangs e drogas que ele havia relatado. Além da verdade eu não era e nem sou
investigador e tão menos Detetive Particular. Mas como explico. Um dia um homem
bem conceituado se aproximou-se de Muniz e argumentou que era importante ele
fazer um Curso de Investigador e de Detetive. Esses títulos iriam ampliar a sua
esfera de ação dentro do Serviço Voluntário, que ele realizava em prol dos
adolescentes. Lembro-me bem que paguei uma soma de dinheiro em troca das
carteiras, mas que não recebi nenhuma orientação policial. Poucos meses depois,
acompanhei pelo Jornal Nacional a prisão deste homem que falsificava carteiras.
E se minha vida de “Investigador” tivesse começado por esse homem? Hoje aquelas
carteiras representam apenas um troféu, vitórias, porque alguém foi reintegrado
a Sociedade.
O nome Pedro é
fictício, mas a história é verídica
Índice Geral da União Nordeste
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