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quarta-feira, 28 de julho de 2021

CLUBE DE DESBRAVADORES - Onde os Juvenis Aprendem a Obedecer

 

CLUBE DE DESBRAVADORES

Onde os Juvenis Aprendem a Obedecer




Muitos ainda acham que o único objetivo do Clube de Desbravadores é manter os juvenis ocupados.

Por: Claudinei Cândido Silva

— Oi mãe! Eu quero ser um Desbravador!
— Não, meu filho, você ainda é muito novo!
Essa era uma das indagações que me provocavam incompreensão. Por que não podia ser um Desbravador? Afinal, já ia à escola sozinho, já era mocinho, já sabia até como se fazia uma omelete; então, por que era novo para entrar no clube? Não conseguia entender, e discutir pouco ajudaria; esperar seria a solução e assim esperei pacientemente, e os anos pareciam não passar. Ficava ansioso quando ouvia falar de algum Acampamento, ou até mesmo algum passeio programado pelo clube local, mas como ainda não pertencia ao clube, não tinha acesso a tais programações. O uniforme, a unidade, a relação amiga da Diretoria para com os Desbravadores, tudo isso me aliciava muito, mesmo não sabendo o que significava tudo aquilo para a Igreja, ou porque ela mantinha aquele órgão que mexia com os garotos de minha idade.

O clube da minha igreja não parava de crescer. Aliás, não era só aquele. O Clube dos Desbravadores desde que foi aceito pela Associação Geral como Órgão oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1950, não parou de crescer. Hoje, em São Paulo, há mais Desbravadores do que em qualquer cidade do mundo.

Entrei para o clube. Sonhava constantemente com os futuros passeios, acampamentos que haveria de fazer. Inúmeras crianças entravam naquele clube recém-formado que prometia muitas novidades. Hoje o Clube dos Desbravadores cresce no mundo todo e isso não nos gera preocupação mesmo porque trabalhamos para que ele cresça. Mas o que nos preocupa é a qualidade desses clubes. Essa é a razão pela qual nos empenhamos em nosso Campo para promover cursos de treinamento, especialidades, classes dos desbravadores, classes avançadas, etc



Como Incentivar os Juvenis

Lembro-me da minha época de traquinagens na escola. Já me considerava adventista, embora não fosse batizado. Fui suspenso pelo menos quatro vezes, vítima de más companhias, e não demorou muito para chegar à conclusão de que aquilo não era para um garoto que vivia na Igreja. Eu me sentia mal quando as pessoas si dirigiam a mim dizendo: Que coisa feia! Isso porque é adventista! Já pensou se não fosse!
Aquilo me doía muito, mas o que eu poderia fazer? Gostava muito de situações perigosas, aventuras faziam parte da minha vida. Às vezes o simples fato de ter que pular o muro da escola para cabular aula já me excitava, ou então o fato de ter que enfrentar a Diretora. Sim, eram aventuras de um certo sentido, mas será que trariam algum benefício? Não! Não trariam e eu sabia disso. Notei que no clube as atividades eram diferentes, identifiquei-me muito com ele porque pude gastar minhas energias e forma saudável sem provocar danos para mim mesmo ou até para outrem.
Muitos ainda acreditam que o Clube de Desbravadores tem somente por objetivo manter os juvenis ocupados, mas não é só isso. Envolvendo-os nas atividades da Igreja, desenvolvendo neles a vontade de trabalhar pelos outros, isso os ajudará a fazer muito em prol do Evangelho. Agora e no futuro terão gosto pelo trabalho missionário, estarão mais aptos a falar de Jesus e se empenharão em participar de atividades filantrópicas.
Devemos também incentivar atividades físicas, visto que os pais não dão a devida atenção neste sentido, atividades que desenvolvam a mente, fora ou um pouco fora daquilo que se aprende na escola, se aprofundando em conhecimento sobre a Natureza, o nosso corpo, etc. E, por fim, a mais importante para nós, as atividades espirituais, que desenvolvem nos juvenis o hábito de ler a Bíblia, estudar a lição da Escola Sabatina, fazer a Meditação Matinal e muitas outras coisas que, como disse, os ajudarão a falar de Jesus e de Sua breve volta.

Qual a Idade?

A idade é o que menos importa. Tinha apenas 13 anos quando fui chamado pelo diretor do clube para trabalhar na diretoria como Relações Públicas. Fiquei muito contente e surpreso ao mesmo tempo, porque sempre achei que os cargos da Direção fossem inacessíveis a qualquer Desbravador, principalmente se este tivesse apenas 13 anos de idade. Mas as surpresas não pararam por aí; com 14 anos, ou seja, 1 ano mais tarde, participei de um supletivo de Líderes promovido pelo Campo local. Deveriam participar somente 3 membros de cada clube com mais de 16 anos de idade (idade mínima para a Classe de Líder, o patamar das Classes dos desbravadores).
Pois bem, estávamos indo para o curso num grupo de 6 sendo desses seis, dois menores de 16 anos. A exceção foi aberta porque criam que um garoto de 14 anos não teria chance de cumprir todos os requisitos, mas pela graça de Deus conseguimos cumpri-los todos, e fomos ainda um dos poucos que conseguiram ultrapassar a meta estipulada. Não pude receber a insígnia de Líder, pois não tinha idade; recebi somente depois de 3 anos, quando já tinha acabado de ler todos os livros solicitados. Alguns meses após minha investidura fui convidado a trabalhar como Distrital numa área que era para mim um desafio. Minha missão: formar o maior número possível de clubes.
Fiquei naquela área exatamente um ano, e vários clubes se levantaram, sendo um deles, um dos maiores de nosso Campo, e com 18 anos fui chamado para trabalhar no Ministério Juvenil da Associação Paulista Leste, um novo desafio. A princípio pensei, mas depois senti que Deus estava me chamando e acabei aceitando. Mas o que você faz não é importante. O importante é que você trabalhe para a salvação de almas, trabalhe para mostrar Jesus ao mundo. Cada um tem seu lugar especial na Causa de Deus. A História de nossa Igreja apresenta inúmeros líderes que começaram cedo, entre eles:
1. Tiago White, com 21 anos começou a pregar, ganhou em seis semanas 1000 almas para Cristo.
2. Ellen Harmon tinha 17 anos quando se tornou porta-voz de Deus.
3. Urias Smith tinha 21 anos.
4. J. N. Loughborough tinha 20 anos.
5. S. N. Haskell tinha 19 anos quando começou a pregar.

Entendo perfeitamente que a idade juvenil não se estende até essas idades apresentadas, mas digo que se o juvenil não se abastecer, mesmo que alcance a idade de 20 ou 21 anos, não se sentirá espiritualmente preparado, isso se ainda estiver na Igreja.

Quer Ajudar Mas é Inexperiente

Quando eu era pequeno, gostava muito de ajudar meu tio em seus afazeres, porque sabia que ele me daria oportunidade para realizar algum trabalho importante, coisa que não acontecia muito na minha família. No clube, tive essa mesma oportunidade. Os diretores sabiam o que pedir, e de acordo com o desenvolvimento de cada um, eram aumentadas as responsabilidades. Reconheço que às vezes cometia erros, mas me esforçava para evitá-los. Lembro-me de uma vez que estraguei uma ferramenta de trabalho do meu tio e ele ficou muito bravo, pois seu trabalho dependia daquela ferramenta. Mas isso foi momentâneo, porque ele sabia que a minha intenção era simplesmente ajudar.
Não devemos repelir os juvenis quando procuram fazer coisas apropriadas, se cometem erros, se ocorrem acidentes e as coisas se quebram. Toda a sua vida futura depende da educação que lhes damos nos anos de infância.

A Infância de Jesus

Diz Ellen White: “À luz da presença do Seu Pai, crescia ‘Jesus em sabedoria, em estatura e em graça para com Deus e os homens”. Seu Espírito era ativo e penetrante com uma reflexão e sabedoria além de Sua idade.
“Também o caráter era belo na harmonia que apresentava”. As faculdades da mente e do corpo desenvolviam-se gradualmente, segundo as leis da infância.
"Jesus revelava como criança, disposição singularmente amável. Aquelas mãos cheias de boa vontade estavam sempre prontas para servir a outros. Manifestava uma paciência que coisa alguma podia perturbar e uma veracidade nunca disposta a sacrificar a integridade. Firme como uma rocha em questões de princípios, Sua vida revelava a graça da abnegada cortesia." — O Desejado, pág. 57.
Entrementes a linha divisória entre a infância e a juventude era a idade de 12 anos. Quando o juvenil completava essa idade, eram-lhe atribuídas atividades religiosas, ou seja, eram-lhe dadas especiais oportunidades para instruções religiosas e esperava-se que participasse das festas e observâncias sagradas. Hoje com essa idade, o adolescente juvenil se sente perdido, não se vê andando com crianças menores e não é aceito pelos jovens que ainda o vêem como criança, e muitas vezes não lhe é dada oportunidade para as atividades da igreja.

Como Tratar Nossos Juvenis

Gostaria de responder a essa pergunta com uma outra: Como podemos mostrar Jesus aos pequenos: tratando-os de maneira severa, sendo bruscos ou até estúpidos com eles? É sabido que os juvenis têm uma visão muito restrita de Deus e por essa razão, atribuem ser divina a natureza dos pais, do ancião, do diácono, do diretor do Clube ou até mesmo do pastor. Se algum destes fizesse algo que certamente Jesus não faria, ficaria difícil mostrar como Ele realmente é! E isso acontece comumente em nosso meio.
Muitos pensam em querer transformar juvenis em sérios e bem comportados adultos, mas eles não pensam como adultos. Então, por que fazê-los agir como tais? A criança tem muita energia para queimar, mas não pode queimá-la na igreja, conversando, correndo, pulando, gritando, brincando, e o que se consegue é forçá-la a ficar quieta. É evidente que temos que ser muitas vezes firmes, mas não carrascos. Agindo assim, estamos inconscientemente dizendo aos juvenis que a igreja não é para eles, e sim para os adultos.
Em variados estudos, percebi que os pais e professores usam muito a palavra "não" — coisas como: "não faça isso!"; "não faça aquilo!"; "não faça barulho!"; "não corra!"; "não fale alto!" geram no juvenil o seguinte pensamento: Ah! Mas não pode fazer nada! E automaticamente acaba abandonando o lugar pela dificuldade que tem de se encaixar.


Tudo isso faz com que cresça uma preocupação: O que fazer para que o juvenil tenha mais interesse pela igreja? Tiremos, por exemplo, uma igreja que não tenha um Clube de Desbravadores. Todos nós sabemos que o culto dificilmente é dedicado aos juvenis, e com o Programa JA não é muito diferente. Então, eu lhes pergunto: O que uma igreja nestas condições pode fazer por um juvenil? Cabe a nós como membros incentivar os juvenis. Devemos como Igreja ensiná-los a trabalhar pelos outros e sentir prazer nisso. “Cabe a nós mostrar Jesus a esses meninos e meninas e não regras e mais regras, pois o mesmo Jesus não deu nenhuma condição quando disse: ‘‘Deixai vir a Mim os pequeninos, pois é dos tais o Reino dos Céus”.

Reportagem da Revista Adventista - 1988



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